Lembro-me que, assim que me converti, tive de tomar decisões muito difíceis que meus colegas de escola e amigos não compreenderam. Frequentemente somos chamados de radicais ou fanáticos quando somos salvos. Se você permanecer o mesmo, não há problema algum. Mas, caso se posicione pelo Senhor, a perseguição virá. Então, fazia-me uma pergunta: é possível seguir ao Senhor sem ser perseguido?

Encontrei a resposta ao ler a carta à igreja em Esmirna (Ap 2:8-11). O nome Esmirna, assim como os demais das igrejas de Apocalipse, tem um significado especial. Seu nome quer dizer, em grego, mirra, ou seja, sofrimento. Portanto, a igreja em Esmirna era uma igreja sofredora.

Muito do que vemos hoje, entretanto, foge a esse conceito. Vitória, prosperidade e libertação são as palavras mais utilizadas no meio cristão. Elas não estão erradas e até mesmo são bíblicas, todavia, são utilizadas incorretamente e, além disso, pintam-nos um quadro muito incompleto do que realmente é a vida cristã. Por outro lado, o Senhor disse a Esmirna que conhecia a sua “tribulação, pobreza e a blasfêmia dos que a si mesmo se declaram judeus e não são”. Três termos totalmente diferentes dos primeiros que citei, né?

É muito significativo lermos sobre Esmirna logo após Éfeso em Apocalipse. Segundo a nossa experiência, ao colocarmos Cristo como o primeiro em nossas vidas, perseguições provavelmente surgirão. Jesus sabia que passaríamos por aflições (Jo 16:33). Paulo também testificou isso ao dizer que preenchia o que resta das aflições de Cristo (Cl 1:24). A julgar pelos sofrimentos do apóstolo, imagino que sua vida depois de salvo não tenha sido fácil (2 Co 11:16-30). Ao final da carreira, entretanto, ele diz que sua tribulação foi completa (2 Tm 4:6-8). O mesmo ocorre com Esmirna quando o Senhor diz que Ele é o primeiro e o último e que a tribulação da igreja duraria 10 dias, tipificando o sentido de completude (Ap 2:10).

Pude presenciar esses fatos na vida de um jovem irmão. Antes dele ser salvo, sua família o incentivava a ter uma carreira como cantor, pois tinha boa voz e tocava violão, além disso, frequentemente me dirigia a sua casa para fazermos alguns trabalhos da escola. Aparentemente, a vida daquela família era bem tranquila. No entanto, após algum tempo pregando-lhe o evangelho, ele se converteu ao Senhor e, movido pela vida de Deus em si, tomou algumas atitudes que surpreenderam seus pais. A primeira delas foi abdicar de sua carreira musical. Como o esperado, seus pais não aprovaram a decisão e passaram a fazer forte oposição ao viver que o filho estava levando. Cheguei a ser acusado de fazer “lavagem cerebral” em meu amigo. Todavia, o modo como o jovem encarava a situação só podia ser explicado pelo Espírito que habitava nele. Eu jamais lhe disse o que deveria fazer ou não.

Lembro-me com clareza as vezes em que conversamos e ele, com os olhos cheios de lágrimas, dizia o quanto estava sofrendo por não entender porque os pais estavam agindo daquela forma. Ao mesmo tempo, sentia uma alegria indescritível por saber que estava fazendo a vontade de Deus. A graça de Deus o bastava, assim como foi totalmente suficiente para Paulo (2 Co 12:9). Meu amigo não precisou de muito para sofrer perseguição, apenas colocou a Cristo como o primeiro em sua vida. Ele não mediu as possíveis consequências, apenas amou a Cristo em primeiro lugar. Por isso, a carta à igreja em Esmirna trata apenas de uma coisa: amamos ao Senhor? Damos ao Senhor a primazia em todas as coisas? Caso a resposta seja sim, precisamos estar preparados para sofrimentos e perseguições.

Existem diversas razões pelas quais sofremos, mas uma delas ocupa um lugar especial no plano de Deus para o homem: a edificação da igreja. É isso o que Paulo diz em Cl 1:24. Ele completava as aflições de Cristo em favor do Seu corpo, que é a igreja. Cristo já sofreu por nós na Cruz e isso está consumado. No entanto, ainda nos resta completar, em nossa carne, o que resta das aflições de Cristo em favor da igreja. Esta que hoje está sendo transformada na noiva, a esposa do Cordeiro, a Nova Jerusalém (Ap 21:9-10).

Portanto, pelo lado individual, o processo de parecer-se mais a Cristo e negar a si mesmo exige sofrimento. Não porque Deus goste ou deseje isso, mas, sim, porque somos resistentes a transformação. A carne luta contra o Espírito e possuímos uma natureza contrária à vontade de Deus (Rm 7:14-20). Pelo lado coletivo, no entanto, o Senhor tem uma obra a ser concluída, que é a edificação da igreja, o estabelecimento de Sua vontade aqui na terra (Ef 4:12). Os dois lados, apesar de parecerem distintos, estão “na mesma moeda” e dependem um do outro (Cl 1:24).

Enfim, aprendi com o apóstolo Paulo que os sofrimentos não são apenas ganho para mim porque desfruto da graça de Cristo e cresço espiritualmente. Aprendi também que a Sua vontade eterna é cumprida quando O coloco em primeiro lugar em cada área da vida. Paulo teve esta visão e esteve disposto a sofrer, e até mesmo a morrer por ela.

Hoje, você estaria disposto(a) a sofrer pelo Senhor e Sua igreja?