Deus está em silêncio, e agora?

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Se você não tem conseguido ouvir ou discernir a voz de Deus, e parece que você está perdido, esse texto é para você.

O som é uma das principais formas de comunicação, por meio dele é possível saber se está perto ou longe, ou até mesmo se há algum perigo por perto. Entre essas e outras situações o som pode ser complementar aos outros sentidos ou ser a única referência de orientação por meio da audição. Somos tão acostumados com o som que às vezes o silêncio nos incomoda, principalmente quando perguntamos algo e não há respostas, mas mais difícil ainda é quando nós perguntamos algo ao Senhor e tudo o que temos é o Seu silêncio.

A Bíblia nos fala recorrentemente sobre a existência de uma carreira a ser percorrida (1 Coríntios 9:23-24, Gálatas 5:7, Filipenses 3:12-14, Hebreus 12:1), mas como correr sem ouvir a voz do Senhor sobre situações específicas? Parece que tudo ao redor e no nosso interior soa muito alto, mas a voz do Senhor permanece em profundo silêncio. Ouvir a voz do Senhor é fundamental para nortear as nossas escolhas, e diante das situações só temos duas opções: a vida e a morte, qual dessas escolher? Por mais que seja óbvio escolher a vida, às vezes escolher a morte parece algo involuntário, é carnal. A humanidade se prestou a essa escolha no Éden (Gênesis 3:1-6).

E o Senhor Deus lhe deu esta ordem: “De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” (Gênesis 2:16-17)

Desde o Éden somos responsáveis por nossas escolhas e  afetados pelas escolhas de outros. Dentre as circunstâncias que vivemos, o Senhor espera que usemos o nosso bom depósito (2 Timóteo 1:14), porque  nosso amado Pai nos falou palavras precisas que serão usadas em momento oportuno. Após Deus fazer uma nova aliança com o povo de Israel, mesmo diante de um quadro de incredulidade e desobediência, incrivelmente Ele apresenta promessas de misericórdia:

“Quando, pois, todas estas coisas vierem sobre ti, a bênção e a maldição que pus diante de ti, se te recordares delas entre todas as nações para onde te lançar o Senhor, teu Deus; e tornares ao Senhor, teu Deus, tu e teus filhos, de todo o teu coração e de toda a tua alma, e deres ouvidos à sua voz, segundo tudo o que hoje te ordeno, então, o Senhor, teu Deus, mudará a tua sorte, e se compadecerá de ti, e te ajuntará, de novo, de todos os povos entre os quais te havia espalhado o Senhor, teu Deus” (Deuteronômio 30: 1-3).

O Senhor tinha dito que iria espalhá-los, esse era o plano macroeconômico, mas quanto ao plano microeconômico, que pode ser representado para onde cada família iria, eles não sabiam. Não ficamos incomodados se o silêncio de Deus é sobre quando o Senhor Jesus voltará. Em Mateus 24:36,  Deus disse que o dia e a hora ninguém sabe, nem o Filho, só o Pai que sabe (esse é um aspecto macro), mas normalmente nos incomodamos com coisas que dizem respeito a nós e ao nosso futuro aqui nessa terra (aspecto micro), onde tudo vai passar, menos as palavras do Senhor (Mateus 24:35). E, acredite,  esse incômodo tem muito a ver com o nosso coração.

Nesses versículos de Deuteronômio, a Bíblia mostra que  precisamos dar ouvidos às promessas que Ele fez e aos conselhos deixados. O termo “deres ouvidos” diz respeito a atender, obedecer, aceitar o que o Senhor falou em certo momento, significando que Ele não falaria repetidas vezes a mesma coisa e, portanto, quando as situações que Ele previu acontecessem, a palavra seria necessária, assim como a obediência. Por fim, um dos versículos que mais aquecem o meu coração, ainda em Deuteronômio 30, é o 6:

“O SENHOR, seu Deus, circuncidará o coração de vocês e o dos seus descendentes, para que vocês amem o SENHOR, seu Deus, de todo o coração e de toda a alma, para que vocês tenham vida.” (Deuteronômio 30:6).

Parece que quanto maior é o tempo do silêncio de Deus, mais nos sobrevém ansiedade, o que faz com que nossa alegria se esvaia pouco a pouco. Ficamos atribulados e aflitos, porque, especialmente nós, temos acesso à informação instantaneamente, e o nosso coração se precipita, mas o Senhor quer mesmo é circuncidar o nosso coração, isso significa dizer que Ele quer que sejamos Dele, com a mesma identidade e pensamento, que O amemos e tenhamos vida. Só que não ter respostas faz com que nos frustremos com as expectativas que criamos, porém o Senhor nos apresenta o versículo 11:

“Porque este mandamento que hoje lhes ordeno não é demasiadamente difícil, nem está longe de vocês.” (Deuteronômio 30:11).

Opa, parece que agora estamos falando a mesma língua que o Senhor, uma resposta mais rápida, ela está em algum lugar, não está longe, e no versículo 14, Ele arremata:

“Pois esta palavra está bem perto de vocês, na sua boca e no seu coração, para que a  cumpram.”

Quais palavras você tem proferido? A sua boca verbaliza  aquilo que enche seu coração (Mateus 12:34), e seu coração vai consumir aquilo que seus olhos desejam, aquilo que a carne quer (1 João 2:16). Mas o Senhor diz que essa palavra está bem perto, então, guarde-a, rumine-a, fale audivelmente para você mesmo ouvir as palavras do Senhor escritas na Bíblia,  então não haverá silêncio em relação aos planos de Deus.

Pela lógica humana, o silêncio é a ausência de algo, mas o silêncio de Deus pode significar também tempo de observação. No livro de Jó, é impressionante o tempo que Deus passa observando Jó argumentar com seus amigos. Deus já conhecia o coração dele, mas esse livro registra mais do que o que estava no coração de Jó. 

Jó precisava de respostas diante das suas indagações e seus sofrimentos. No capítulo 32, temos um panorama em que Jó era um homem justo, mas os amigos dele, sem argumentos sólidos,  apenas o condenavam. Então Eliú fala com todo respeito e entendimento, pois reconhecia que o sopro do Todo-Poderoso é o que dá sabedoria e entendimento ao homem (Jó 32: 7-8), e que Deus é maior que o homem, não havendo sabedoria igual a Dele.

Recomendo a leitura do livro de Jó, não irei me deter nele. De 42 capítulos, Deus só inicia um diálogo com Jó a partir do capítulo 38, fazendo-lhe perguntas e levando-o a reconhecer sua pequenez diante de coisas grandiosas que Ele fez. Então Jó Lhe responde “sou indigno. Que te responderia eu?” (40:4a). Esse tempo de silêncio serviu para expor as insatisfações mais íntimas do coração de Jó, foi necessário que algo acontecesse para que ele as percebesse e tivesse um novo rumo, declarando a Deus “Eu te conhecia só de ouvir falar, mas agora os meus olhos te veem” (Jó 42:5). A partir da ausência da fala, mas não da observação de Deus, o relacionamento entre Jó  e Deus pôde mudar completamente.

O silêncio também é uma das melhores respostas, porque nós podemos parar para contemplar a Deus,tirando a ansiedade e nos enchendo de paz. Ele nos constrange com o seu silêncio porque às vezes falamos demais e fica um monólogo enorme. A voz de Deus pode sim ser audível, mas a soberania de Deus também pode se manifestar no mais profundo silêncio durante uma oração regada com lágrimas.

Aprenda a descansar em meio ao silêncio,porque mesmo em silêncio, Deus pode transformar situações. Quando Deus fala, algo acontece, Ele chama à existência aquilo que não existe (Romanos 4:17). Foi assim que Deus fez a Bíblia que temos, através de Seu falar. Portanto,apresente os seus pedidos ao Senhor, mas peça que os planos Dele aconteçam na sua vida, porque é como Jó declarou:

“Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado.” (Jó 42:2)

Por fim, concluo dizendo que está tudo bem se você orar e nada acontecer, se Deus não confirmar algo, se as coisas não mudarem positivamente. A soberania e o senhorio de Deus não são medidos pelo que você pede ou ordena e  Ele obedece. A criatura não pode ajudar o Criador, não pode dizer a Deus como fazer, a criatura tem que crer que se Deus quiser Ele faz ou não, Ele responde ou não. E isso não muda o quanto Ele ama você, mas muda o quanto você entende que a sua vida não é sua e que você não precisa ter controle sobre ela, mas que se ela estiver (e está) sob o controle de Deus, calma, tudo cooperará para o seu bem (Romanos 8:28). Esse bem não são os benefícios nessa terra, pois a porção separada por Deus para os que O amam está na esfera celestial (Filipenses 3:20).

Não há nada de errado em querer construir uma família, fazer um curso superior, abrir uma empresa ou ganhar um salário melhor, essas coisas são normais e Deus disse que deveríamos viver uma vida normal (Mateus 24:37). Há  somente dois tipos de cristãos: os que esperam a vinda do Senhor e os que não a esperam. Se as ansiedades do nosso coração em relação ao nosso presente e futuro terrenos estão se sobressaindo ao propósito que Deus tem para nós, então precisamos silenciar essas coisas e ouvir o que Deus tem falado.

Logo, descobrimos que para nós, cristãos do século XXI, Deus não se cala, pois nos deixou Sua palavra escrita por meio da Bíblia. Na verdade Deus pode se calar sobre  questões que nos perturbam, para que  nos reencontremos  e realinhemos as nossas expectativas sobre o fato de que, se vivemos para Deus, Ele cuida do nosso futuro e  não precisamos estar inquietos (Filipenses 4:6-7). Não é sobre nós, é sobre Ele manifestando o Seu poder em nós. Eu não sei o que você perguntou e Deus não respondeu, ou se Ele vai responder, mas creia que mesmo sendo Senhor, Ele é Pai e sabe o que Seus filhos precisam. Entretanto, nem por isso deixou de ser Senhor, Ele foi servo, mas não é nosso servo, Ele é o nosso sumo sacerdote (Hebreus 4:14-15).


Texto baseado na mensagem 5: “A arte da guerra: Conhecer o inimigo e conhecer a si mesmo” da Conferência Internacional de Setembro de 2020, com o tema “Deus nos chama para seu reino e glória”. A mensagem pode ser assistida neste link. 

Link da palestra: Discernir a Voz do Senhor e o Exercício do Espírito 


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