Imagine a seguinte cena: Uma moça à beira da morte, após um acidente vascular cerebral, faz a si mesma os seguintes questionamentos:

“Tudo parece tão pequeno, tudo que eu tentei fazer, tão pequeno para Ele”

Sua mãe, calmamente, responde:

“Suas músicas, querida, elas vão exercer o seu trabalho.”

Subitamente, a moça diz:

“Mas elas não eram minhas em tudo, eles apenas davam a mim tudo pronto, eu apenas tinha que anotá-las “

Essa era Edith Gilling Cherry (1872-1897), uma jovem poetisa inglesa que foi diagnosticada ainda na infância com poliomelite e, por isso, passou maior parte de sua vida andando com ajuda de muletas. Talvez você não tenha ouvindo falar dessa mulher, creio eu. Porém, eu presumo que já tenha escutado, nem que seja uma vez, o poema feito por esta jovem, 2 anos antes de falecer. O nome original do poema é “We rest on Thee” e é frequentemente cantado à melodia do Hino da Finlândia  feito pelo compositor Jean Sibelius (Além do “We rest on Thee”, o Hino da Finlândia também é melodia para alguns outros hinos como “Be still, My Soul”, “I Sought the Lord”; “A Christian Home”; “This Is My Song”; e “I Then Shall Live”). Entretanto você deve conhecê-lo como “ó, Defensor” em sua versão em português. A seguir, nós temos a versão em inglês e a versão do Hinário da Editora Árvore da Vida – nº 414:

 

We rest on Thee

1 We rest on Thee, our Shield and our Defender!

We go not forth alone against the foe;

Strong in Thy strength, safe in Thy keeping tender,

We rest on Thee, and in Thy Name we go.

 

2 Yes, in Thy Name, O Captain of salvation!

In Thy dear Name, all other names above;

Jesus our Righteousness, our sure Foundation,

Our Prince of glory and our King of love.

 

3 We go in faith, our own great weakness feeling,

And needing more each day Thy grace to know:

Yet from our hearts a song of triumph pealing,

“We rest on Thee, and in Thy Name we go.”

 

4 We rest on Thee, our Shield and our Defender!

Thine is the battle, Thine shall be the praise;

When passing through the gates of pearly splendor,

Victors, we rest with Thee, through endless days.

Hinário Editora Árvore da Vida – 414

1 Ó Defensor, em Ti nós descansamos,

Sozinhos, não há como triunfar;

És nossa força, nossa terna guarda,

Descanso és, Teu Nome força dá.

2 Ó Capitão da Salvação, Teu Nome

Acima está de todos os demais;

Justiça nossa, firme Fundamento,

És Rei de amor e Príncipe da Paz.

3 Por fé marchar, embora sendo fracos,

Carentes de mais graça desfrutar,

Porém, em nós, ressoa um triunfo;

Descanso és, Teu Nome força dá.

4 Ó Defensor, em Ti nós descansamos:

Teu é o combate, Teu será o louvor,

Quando, reinando em Teu Reino em glória,

Descansaremos sempre em Ti, Senhor

 

Edith começou a escrever com apenas 12 anos e a maioria de seus poemas foi escrito antes dos 15 anos de idade. Mesmo com tantas dificuldades físicas, poucos são os relatos de tristeza e lamentos por parte dela, seu coração sempre foi de uma busca intensa e incessante pela presença de Deus. “We rest on Thee”, um de seus hinos mais famosos, tornou-se conhecido por uma triste história na qual é associado: cinco missionários foram brutalmente martirizados enquanto levavam o evangelho para uma tribo indígena localizada na Amazônia Equatoriana, o livro contando a história desses missionários foi escrito por Elizabeth Elliot, esposa de um dos mártires,  o título do livro é “Through the Gates of Splen­dor” um verso da quarta estrofe do hino de Edith.

O hino foi baseado em 2 Cr 14:11:

“Clamou Asa ao SENHOR, seu Deus, e disse: SENHOR, além de ti não há quem possa socorrer numa batalha entre o poderoso e o fraco; ajuda-nos, pois, SENHOR, nosso Deus, porque em ti confiamos e no teu nome viemos contra esta multidão. SENHOR, tu és o nosso Deus, não prevaleça contra ti o homem.”

Asa foi rei de Judá entre os anos de 912-871 a.C. Lutou contra a idolatria e o paganismo do povo daquela época (2 Cr 14:3;5) e, além disso, ordenou ao povo que buscasse ao Senhor e guardasse a lei de Moisés (2 Cr 14:4).  A oração expressa no versículo onze é um clamor de proteção ao Senhor, porque os etíopes saíram contra Judá e, naquela época, o exército da Etiópia possuia muito mais homens do que o exército do povo. O rei Asa clamou ao SENHOR declarando a sua fraqueza diante do inimigo e grandeza do Deus que estava à frente do povo: “SENHOR, além de ti não há quem possa socorrer numa batalha entre o poderoso e o fraco; ajuda-nos, pois, SENHOR, nosso Deus, porque em ti confiamos e no teu nome viemos contra esta multidão”. O SENHOR foi à frente do povo e feriu os etíopes diante do rei Asa e diante de Judá (2 Cr 14:12).

A primeira estrofe do hino mostra exatamente o clamor do rei Asa: “Ó Defensor, em Ti nós descansamos, Sozinhos, não há como triunfar; És nossa força, nossa terna guarda, Descanso és, Teu Nome força dá.”. De início, o hino apresenta a necessidade de descanso em Deus, isto é, deixar de lado o próprio esforço e confiar na força (Ex 15:2)  e no guardar do Senhor (Sl 91:11).

Na segunda estrofe, Edith retrata a grandiosidade do nome (Fp 2:9), mostra o reconhecimento de Deus como nossa justiça (Is 30:18), exalta a importância de ter Cristo como base e fundamento de nossas vidas (1 Co 3:11)  e termina a estrofe exaltando-O como o Rei de amor e Príncipe da Glória. (na versão original em inglês, “Our Prince of Glory and our King of love” – Is 9:6).

A terceira estrofe é um grito de dependência a Deus. É o reconhecimento da necessidade diária da graça. É a entrega. Eu enxergo nesta estrofe Deus olhando para nós como uma mãe olhando para seu filho recém nascido, com um olhar de amor e de cuidado. Edith traz uma reflexão em seus versos: não importa a situação em que você está passando, pode estar fraco e carente da graça de Deus, mas se você descansar Nele, haverá triunfo.

O hino finaliza com uma declaração de entrega e um anelo pelo descanso eterno. Na quarta estrofe, Edith faz um desfecho do apelo inicial por descanso mostrando os portões de pérola de Apocalipse 21:21 (na versão original em inglês, “When passing through the gates of pearly splendor”) e termina com o verso “Victors, we rest with Thee, through endless days” que em uma tradução literal significa

“Vitoriosos, descansaremos em Ti, pela eternidade”

Louvado seja o Senhor. Como não se sentir extremamente confortada por Deus ao ler esse verso? Ele mostra que as lutas pelas quais passamos nesta era não são em vão, além disso, o verso expressa que aquilo que está reservado a nós na era vindoura deve nos motivar dia a dia nessa caminhada proposta quando cremos, e é enxergando este galardão que seremos vitoriosos.

Jovem, esse hino foi escrito em 1895  a melodia foi composta 1899, mas a mensagem que ele passa deve arder em nossos corações a todo momento. Em nossas lutas, em nossas angústias, em nossos anseios não há outra opção além de confiar em Deus e descansar Nele. Ele é nosso Defensor, nosso Salvador. Ele é o capitão da Salvação. Assim como Ele livrou o povo de Judá dos etíopes, Ele vai nos livrar de toda luta espiritual que enfrentarmos, se reconhecermos a nossa fraqueza e esperamos o triunfo pelas mãos Dele.

Algo me impressiona na experiência da autora do hino: ela poderia ter escolhido a passividade devido aos seus vários problemas de saúde e à sua debilidade física, porém Edith Cherry não o fez. Ela escolheu servir ao seu Deus. Ela não podia sair como missionária, ela não podia viajar a lugares inóspitos para levar o evangelho, entretanto seus hinos fizeram isso por ela. Deus tem chamado cada um de nós para fazer a sua obra. Ele quer nos usar como ferramentas para o seu reino e a capacidade de fazer esta obra não vem de nós, vem Dele! Não pense nas dificuldades, pense que o seu Deus é poderoso para fazer infinitamente mais do que você pode pedir ou pensar (Ef 3:20)! Descanse Nele e permita o triunfo por meio da sua vida!

Deus abençoe você!

Vídeo do hino em inglês: 

Vídeo do hino em português (versão da EAV): 

Fonte

We Rest on Thee

http://www.hymnary.org/text/we_rest_on_thee_our_shield_and_our_defen

https://en.wikipedia.org/wiki/Finlandia_Hymn http://wordwisehymns.com/2010/02/09/today-in-1872-edith-cherry-born/