Texto traduzido do artigo: “Netflix’s Biggest Competition”, por Tim Challies.

“Reed Hastings, CEO da Netflix, como qualquer outro líder de negócios, é sempre desafiado com a pergunta sobre concorrência: “quem são os concorrentes e o que você planeja fazer em relação a eles?”. Essa pergunta foi feita a ele no mês passado, durante as transmissões regulares da Q1 e sua resposta é, ao mesmo tempo, fascinante e um pouco alarmante.

Um investidor perguntou em particular sobre a Amazon: “Como a Netflix vai se manter à frente da Amazon e sua crescente biblioteca de vídeos do Prime?” Hastings elogiou a Amazon e seu fundador Jeff Bezos, mas então moveu-se numa direção inesperada. Acontece que a Netflix não considera a Amazon (ou a HBO ou qualquer outra companhia similar) sua verdadeira concorrente. O principal concorrente da Netflix é algo muito mais elementar: o sono. “Quando você assiste a um programa da Netflix e fica viciado nele, você fica acordado até tarde da noite, de madrugada. Nós estamos competindo com o sono, no limite”.

Por que o sono é o principal concorrente, mais que a Amazon ou a HBO? “Porque o mercado é tão vasto (…) E é por isso que somos como gotas de água no oceano de tempo e de gastos para as pessoas”. A Netflix tem 50 milhões de inscritos só nos Estados Unidos e está se aproximando de 100 milhões pelo mundo. A HBO tem significativamente mais que isso. Mas a comparação dificilmente importa, porque elas ainda não chegaram perto de preencher todo o nosso tempo. Essas companhias não estão competindo para derrotar uma à outra tanto quanto elas estão competindo para preencher todos os nossos momentos acordados. A nossa necessidade de fechar nosso olhos é a maior limitação delas, porque, no final das contas,  chegaremos ao final do dia. Por fim, temos que desligar nossas telas para dormir.

Eu vejo que a Netflix e seus outros concorrentes já fizeram suas reivindicações de todos os nossos momentos acordados. Agora o principal objetivo deles é preencher cada um desses momentos e então esticá-los – para aumentar a quantidade deles. Eles criarão, comprarão e licenciarão tanta programação envolvente que iremos assisti-las desde o momento em que chegarmos em casa do colégio ou trabalho até o momento em que nós temos que ir dormir. Por liberar suas temporadas inteiras de uma vez, ao invés da quantidade tradicional de um episódio por semana, eles estão nos ajudando a formar hábitos de consumo excessivo e de sono reduzido para ganhar entretenimento. Eles estão, pela própria admissão de Hastings, nos treinando para estar viciados no que eles oferecem.

A transparência de Hastings é útil para nós, que somos ordenados por Deus a “remir o tempo”. No livro de Efésios, Paulo fala da necessidade de se viver com prudência e diz: “Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus” (Efésios 5:15-16). Por meio de Paulo, Deus nos ordena a viver com propósito e sabedoria, para aproveitar o máximo de cada oportunidade de abençoar e servir a outros. A Netflix pode nos ajudar ou nos prejudicar nessa tarefa. Ela pode nos ajudar quando serve como uma maneira de descansar de nossas tarefas diárias e fardos pesados para que possamos logo voltar ao trabalho reanimados. E pode nos prejudicar quando vai além disso, quando se torna viciante, quando nos faz evitar, negligenciar ou procrastinar as responsabilidades que Deus nos atribuiu.

O objetivo da Netflix é dominação, o que a faz oposta a qualquer forma de moderação. Nós, por outro lado, devemos firmemente sustentar nossas convicções de que trabalho, não entretenimento, é o propósito da vida. A fé em Cristo não nos compele a trabalhar para que possamos descansar, mas a descansar para que possamos trabalhar [1]”.

“O sono é o meu maior inimigo”, brincou a conta da Netflix no Twitter.

Fonte: Challies.com.

Um cristão deve sempre verificar se a maneira como vive está de acordo com a vontade de Deus (Sl 139:23,24; Ef 5:15). E não seria diferente em relação a forma como gasta tempo com entretenimento, ainda mais diante da notícia acima. Devemos sempre nos perguntar: “quais têm sido minhas prioridades?”, “Quem tem sido o Senhor do meu tempo?”, “Tenho praticado a moderação que Deus ordena?”, “Tenho sido responsável com minhas ocupações?”. Essas perguntas nos ajudam a entender se estamos fazendo bom uso do nosso tempo ou não. Precisamos, então, pedir a Deus que nos ensine a utilizar nosso tempo com responsabilidade e nos mostre como ter momentos de lazer puros e saudáveis. Ele é quem pode nos dar tal sabedoria.

[1] Nota: Para muitas pessoas sem Cristo, o propósito de suas vidas é apenas aproveitar os prazeres desta vida. Essa visão faz com que muitos não deem o devido valor ao trabalho, enxergando-o apenas como um meio para obter lazer, o que, para eles, é o principal. Entretanto, nós, cristãos, sabemos que temos uma missão aqui: fazer a vontade de Deus: estamos aqui para servir a Ele e às pessoas que ele nos entrega. Assim, todas as nossas atividades nesta terra devem ser orientadas para este propósito. Entre essas atividades, está o trabalho, do qual Deus se agrada e, por isso, também devemos nos agradar dele, por ser um meio de moldar nosso caráter, trazer sustento, ajudar a igreja e os necessitados, entre outros (Pv 6:6-11;  Ef 4:28; 1 Ts 4:11,12; 2 Ts 3:10,11). Para isso, é preciso a diligência, que a Bíblia tanto elogia e encoraja. 

Antes da queda, Adão já tinha o trabalho de exercer domínio sobre a terra. O propósito pelo qual o homem foi criado está ligado a trabalhar com e para Deus. O lazer, portanto, deve servir para contribuir com o cumprimento desse propósito, não para atrapalhá-lo.