Acredito que todos os cristãos já se depararam com estas indagações e questionamentos, haja vista que por vezes nossas orações são atendidas, e por vezes não:  qual é a diferença entre oração atendida e oração não atendida? O que podemos aprender na Bíblia sobre a oração? Afinal, por que orar? Para que serve a oração? Não é Deus onisciente e onipotente (Salmo 139)? Por que espera Ele que oremos para começar a operar em nossas vidas? Uma vez que Ele sabe, por que devemos contar-lhe tudo (Filipenses 4:6)? Sendo o Todo-Poderoso, por que Deus não opera diretamente? Por que precisa Ele de nossas orações? Por que somente os que batem entram (Mt 7:7)? Por que diz Deus: “Nada tendes, porque não pedis” (Tg 4:2)?

Em primeiro lugar, precisamos entender que a oração NÃO é um canal de comunicação aberto entre Deus e o homem para apresentarmos apenas nossas necessidades e petições perante o Senhor. A morte de cruz não veio para que a comunicação entre Deus e o homem fosse aberta para pedirmos e conquistarmos coisas perante os homens. A oração não é a expressão de nosso desejo de que Deus ceda às nossas petições e que preencha nosso desejo egoísta.

Prevalece um sério erro em nossa compreensão, isto é, sempre pensamos na oração como um canal para expressarmos o que precisamos – como nosso pedido de socorro a Deus, como se a oração fosse um botão de emergência para suprimento de nossas necessidades. Não percebemos que orar é pedir que Deus cumpra suas necessidades. Devemos compreender que o pensamento original de Deus certamente não é permitir que os crentes alcancem os próprios alvos mediante a oração, mas é Deus realizar seu propósito por meio das orações dos crentes. 

A oração não é para forçar o Senhor a mudar sua vontade e realizar o que não deseja. Não,  perante Deus o crente pede, em oração, que se faça a vontade do Senhor. Logo, precisamos nos alinhar à vontade de Deus para que o  desejo dele se cumpra.

Conhecer a Vontade de Deus

A vontade de Deus é boa, perfeita e agradável para cada um de nós (Romanos 12:2). Somente Deus sabe a nossa real necessidade. Somente nele encontramos a verdadeira felicidade e utilidade para nossas vidas. Somente pelo cumprimento de sua vontade que seremos guiados pelo caminho da vida eterna.

Sendo assim, por que acreditamos que sabemos o que é melhor para nós, de modo que permanecemos em oração, muitas vezes por inúmeros anos, por coisas alheias à vontade do Senhor? Que não irão trazer nenhum proveito a Ele? Você realmente acredita que o que você pensa que é o melhor para você é o melhor caminho a percorrer? Se todas as suas orações fossem atendidas, onde você estaria? Você estaria no centro da vontade do Senhor ou no centro de sua vontade? Ouso  responder, com temor e tremor diante do Senhor,  que estaríamos distantes do plano de Deus para nossa salvação caso todos os nossos pedidos fossem atendidos. 

Certamente cada entulho de nossas orações egoístas nos levariam para um lugar distante de Deus. Essa é a principal resposta para muitas de nossas orações não atendidas, elas estão imbuídas de desejos unicamente pessoais, sem proveito algum para o cumprimento da vontade de Cristo.

O trecho bíblico que diz: “Nada tendes, porque não pedis” (Tg 4:2), não está relacionado a qualquer pedido aleatório que irá se concretizar caso insistirmos em algo perante o Senhor. Mas está relacionado ao pedido baseado na vontade do Senhor para nossas vidas. Certamente se você pedir algo que provém da vontade do Senhor, Ele terá o maior prazer em atendê-lo.  No entanto, não é tão simples alcançar tal maturidade, haja vista que só saberemos da vontade do Senhor se estivermos nele. Só teremos a sabedoria e maturidade de abrir mão de nossos desejos construídos no plano mundano se estivermos inteiramente no Senhor.

Ademais, não significa que não podemos  ou não devemos orar por nossas necessidades e desejos pessoais. Podemos e devemos, sim. Entretanto, devemos fazê-lo com muito temor e tremor diante do Senhor, sempre lembrando que antes de nossas necessidades, vem a necessidade soberana do Senhor.

O maior exemplo que temos é o próprio Senhor Jesus Cristo, que desceu do céu não para fazer a própria vontade, mas sim a vontade daquele que o enviou: não perder nenhum que Deus lhe tenha dado, conforme está escrito em João 6:38-39, vejamos: “Pois eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E esta é a vontade do Pai, o qual me enviou: que eu não perca nenhum de todos os que Ele me deu, mas que eu os ressuscite no último dia”. 

Da mesma forma, somos embaixadores de Cristo e representamos os interesses celestiais aqui na Terra, de modo que não estamos aqui para fazer a nossa vontade, mas sim a vontade daquele que nos enviou. Se Cristo foi enviado de Deus para que não perca nenhum dos que lhe foram dados, também somos comissionados nesta missão de Cristo, a de não perder nenhum filho de Deus.

A vontade de Deus é que as nossas orações sejam imbuídas da vontade divina, para que através da nossa oração , Ele possa nos usar abundantemente e cumprir com o  propósito dele.

Se nós oramos apenas para nós mesmos, por nossas necessidades pessoais, nós permitimos ao Senhor que nos responda somente em relação ao que Lhe  apresentamos. Ou seja, Deus não irá nos dar uma resposta sobre algo diverso do que Lhe apresentamos. Nos sujeitamos apenas ao SIM ou NÃO do Senhor como resposta

Todavia, quando oramos pelo cumprimento da soberana vontade de Cristo em nós,damos a Ele permissão para proceder conforme seu plano em nossas vidas. Por isso, precisamos orar ao Senhor para fazer sua vontade em nós, não devemos esperar o agir Dele se não estivermos dispostos a nos sujeitarmos a Ele ou se estivermos orando por algo diferente disso

Deus nos deu o livre arbítrio para escolher, e Ele somente  trabalhará em nós se permitirmos seu agir em nossas vidas, conforme seu plano para cada um de nós. Certamente ele agirá de forma tremenda se isso ocorrer e as coisas começarão a fluir em nossas vidas. Não o fluir com base no que queremos, mas o fluir baseado na vontade de Deus.

Você consegue ver a diferença entre orarmos apenas por nossos desejos e orarmos para que a vontade do Senhor se cumpra em nossas vidas? Se você crê que o Senhor tem o melhor para você e confiar no seu agir soberano, não hesite em orar agora mesmo para que a vontade dele se cumpra.

Quando oramos muito em prol de nossos desejos, há um indicativo de que estamos em nós mesmos, em busca de nossa vontade pessoal e não da vontade celestial, tal oração tem pouco proveito para o Senhor.

Mais uma vez volto a afirmar que não há nenhum problema em sonhar e ter desejos relacionados ao nosso viver neste mundo. Porém, se alinharmos a nossa vontade à do Senhor, certamente Ele  satisfará o desejo do nosso coração, bastando apenas que nos agrademos Dele e de sua vontade para nós  (Salmos 37:4).

Facilitaríamos o agir do Senhor, o trabalhar Dele em nossas vidas, a satisfação dos desejos de nosso coração, caso entendêssemos  que não se trata de orarmos para que nossa vontade seja feita, mas sim a vontade daquele que nos enviou: Jesus Cristo.

Não é o número de orações que irá fazer com que o Senhor cumpra algum desejo do nosso coração, tampouco o tempo de oração por isso, mas  se são orações alinhadas à vontade do Senhor ou não.

Desta forma, Deus nos ensina, através da oração do Pai Nosso,  que nossas necessidades pessoais vêm em segundo plano, de modo que em primeiro lugar está a vontade do Senhor. Logo, a prioridade em nossas orações deve ser pelos interesses do Senhor e não pelos nossos.

Os nossos interesses humanos nos limitam apenas ao que este mundo tem a nos oferecer, mas o Senhor quer nos dar a vida eterna. Em 1 Coríntios 15:19, Ele nos mostra que a nossa esperança em Cristo não deve ser limitada apenas a esta vida, para não sermos os mais infelizes de todos os homens. Logo, devemos orar pelo que vai além dessa vida terrenal.

Orações que nasceram do desejo do Senhor

Podemos aprender na bíblia inúmeras orações que nasceram conforme a vontade do Senhor, que não estão imbuídas de nenhum desejo pessoal, mas unicamente do desejo de cumprir a vontade soberana de Deus.

Importante exemplo disso é uma das principais orações de Paulo em Efésios 1: 17-23, onde ele orou para recebermos espírito de sabedoria e revelação a fim de que pudéssemos ver a igreja. Veja o nível desta oração, Paulo poderia pedir muitas coisas ao Senhor, mas orou pelo cumprimento  da vontade de Deus, ou seja, revelar a igreja a seus filhos.

Provavelmente os efeitos desta oração de Paulo se estendem até os dias de hoje, em que muitos filhos de Deus recebem espírito de sabedoria e revelação para visualização da igreja. Veja que o poder desta oração está, simplesmente no fato de Paulo não buscar seus interesses pessoais, mas os daquele que o enviou.

Outro exemplo é a oração do Pai Nosso, que está em Mateus 6:9-13, vejamos: 

“Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal [pois teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém]!”

 

A oração do Pai Nosso é o único modelo de oração deixado pelo Senhor Jesus e nos mostra como devemos orar. Nela,  primeiramente vemos um bloco de versículos relacionados à vontade do Senhor, versículos 9 e 10, que fala sobre a santificação do nome de Deus, a vinda do Reino e o fazimento de sua vontade.

Em seguida, nos versículos 11 a 13, vemos outro bloco relacionado às nossas necessidades, dizendo respeito ao pão nosso de cada dia, ao perdão de dívidas, à tentação e ao livramento do mal.

Todos esses exemplos reafirmam que em primeiro lugar vem o orar pela vontade soberana de Deus, pela vinda do Reino do Senhor, isto é, pelo fazimento de sua vontade. Somente em seguida, devemos orar por nossas questões pessoais, pelo pão nosso de cada dia, etc.

Isto não quer dizer que os cristãos nunca devem pedir ao Senhor que supra suas necessidades, mas que em primeiro lugar precisamos compreender o significado e os princípios da oração  que concernem à vontade do Senhor, haja vista que a oração foi criada para o cumprimento da vontade de Deus. 

Porém, ocorre que invertemos essa ordem, e oramos demasiadamente pelas nossas necessidades pessoais, como se o Senhor não esquadrinhasse o nosso viver e não soubesse tudo de que necessitamos, como se Ele não houvesse dito para buscarmos o Reino de Deus e a sua justiça em primeiro lugar, que as demais coisas nos seriam acrescentadas (Mateus 6:33).

Acredito que o Senhor se entristece quando nos achegamos a Ele unicamente preocupados com o pão de cada dia, sem nos preocuparmos com a volta dele e seu plano eterno.

Nem toda Oração atendida edifica 

Há um tipo de oração que se origina inteiramente em nossa necessidade. Embora às vezes o Senhor ouça  tais orações, Ele pouco ou quase nada delas aproveita, conforme está escrito no Salmo 106:15:

“E ele lhes cumpriu o seu desejo, mas enviou magreza às suas almas.”

O que significa esta passagem? Ao clamar a Deus pela gratificação de sua avidez, Israel obteve Dele o que pediu, entretanto, o resultado foi que se enfraqueceram perante Ele. Sim, às vezes Deus ouve e responde às nossas orações somente para satisfazer nossas necessidades, ainda que sua divina vontade não se realize. No entanto, esse tipo de oração pode nos trazer algum dano. Que compreendamos que este tipo de oração não tem  valor e ainda nos enfraquece perante o Senhor.

Precisamos  atentar-nos às nossas orações perante o Senhor, pois muitas vezes elas serão atendidas, apesar de estarem distantes da vontade do Senhor. Mas a palavra é fiel e verdadeira, e precisaremos enfrentar o dano de buscar somente o atendimento de nossa vontade.

Mas a oração que se inicia em Deus e é feita conforme a sua vontade, tem valor incalculável. No céu e na terra só essa oração é legítima e aceitável diante de Deus. 

Mas se você não estiver em Cristo, como saberá sua vontade? O propósito de Deus é que estejamos tão imbuídos de sua vontade que nos esqueçamos de nossos próprios interesses. Ele nos chama para trabalhar com Ele a fim de realizar sua vontade. O trabalho é a oração. Por esse motivo Ele deseja que aprendamos Dele qual é sua vontade com relação a todas as coisas, para que possamos então orar segundo sua vontade. 

Não resta dúvida de que trabalharmos para Deus, desprovidos de nossos próprios interesses é muito difícil. Não obstante, todos os que vivem para Deus devem fazer isso.

Não devemos orar apenas pelas nossas necessidades, afinal, a vontade do Senhor é suprir todas elas. Ou você não crê que o Senhor conhece todas as coisas? Nas gerações passadas Ele não fez muitas coisas que poderia e gostaria de ter feito por causa da falta de cooperação de seus filhos. O nosso trabalho mais importante é preparar o caminho do Senhor.

É verdade que parece que estamos lutando contra Deus, mas tal luta não é contra Deus, como se quiséssemos fazê-lo mudar sua vontade para se acomodar ao nosso prazer. Na realidade, a luta é contra tudo o que se opõe a Deus, de modo que Ele possa cumprir sua vontade. À vista disso, percebemos que somos incapazes de orar como cooperadores de Deus, a menos que realmente conheçamos sua vontade.

Texto inspirado no livro: Oremos, de Watchman Nee.


Colaboração enviada por Carlos Alexandre Rodrigues de Lima

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