O que te surpreende? O que faz você parar e admirar, perder o fôlego, dilatar as pupilas e sorrir extasiado? O último domingo, 27 de setembro de 2015, para uns, foi um dia desses especialmente incomuns, em que o evento raro do eclipse de uma super lua justificou não apenas postergar o sono, como reunir amigos e comprar binóculos ou lunetas para acompanhá-lo. Outros, todavia, não viram motivo para sair à janela, ir à rua ou abster-se do sono. Para um terceiro grupo ainda, o fenômeno gerou expectativas de ocorrências sobrenaturais, em razão de encararem os céus como o grande quadro negro em que Deus prenuncia os eventos importantes para o povo de Israel – na tradição judaica, um eclipse lunar é mau presságio.

Valorações pessoais à parte, não dá para negar que o eclipse total da super lua foi um fenômeno espetacular – o próximo só voltará a se repetir, se tudo ocorrer como previsto pelos astrônomos, em 2033. O desse ano, quem acompanhou ficou embevecido: a superlua ampliou os efeitos do eclipse e seduziu nossos sentidos para atentarmos para a grandeza e para o indecifrável mistério do universo. Ao contemplar esse evento impressionante, resta-nos apenas bendizermos e louvarmos nosso Criador pela excelência da Sua criação, e pela fidelidade e constância do Seu amor sem par para com o homem infiel e inconstante.

Segundo o registro bíblico, no processo de restauração da terra, Deus criou, no quarto dia, luzeiros no firmamento para fazerem separação entre o dia e a noite, e para serem por sinais, para estações, para dias e anos (Gn 1:14). A lua foi o luzeiro criado para presidir a noite (Sl 136:9), tendo também uma importância inestimável na tipologia da economia de Deus – assim como a lua reflete a luz solar, a igreja, sua representação, deve refletir a Cristo, que é o sol da justiça (Ml 4:2). À parte sua importância espiritual, o seu valor para a terra é de tal magnitude que, se a lua não existisse, os ciclos das estações seriam totalmente incertos e irregulares, e provavelmente a própria vida na terra não seria viável, seja pela inconstância do seu eixo, seja pela velocidade que sua rotação teria.

Como Deus foi sábio em ter criado a lua para servir à terra em Seu desenho cósmico!

Parece, contudo, que, ao amaldiçoar a terra em Gn 3:17, Deus tenha quebrado com esse equilíbrio e determinado uma situação de completa penúria – desde a irregularidade das estações até a indefinição entre dia e noite. A possibilidade de interpretação da referida maldição desse modo decorre do que está registrado em Gn 8:21-22. A passagem relata que, quando Deus aspirou o suave olor do holocausto de Noé, determinou que não tornaria a amaldiçoar a terra por causa do homem e, enquanto a terra durasse, não deixaria de haver “sementeira e ceifa, frio e calor, verão e inverno, dia e noite” (Gn 8:22), demonstrando que, na terra pré-diluviana, essas situações que, hoje, nos parecem tão banais, talvez não o fossem, ou seja, talvez não houvesse limites precisos entre dia e noite, nem a sucessão das estações dentro do tempo fosse delineada. Contudo, depois da determinação de Gn 8, ainda que o homem continuasse a ter de trabalhar duro e a lutar contra muitas dificuldades, seria permitido a ele ter sempre certeza de algum fruto de seus labores. Seguramente, a função designada em Gn 1:4 fora restabelecida, a fim de atenuar o intenso sofrimento da maldição sobre Noé e seus filhos.

Por esse e muitos outros relatos da Bíblia, quando olhamos a lua e percebemos todo o seu significado para a manutenção do planeta, não podemos deixar de nos lembrar da fidelidade, misericórdia e amor do Senhor. Aquele corpo celeste, às vezes resplandecente, outras vezes invisível, testemunha a constância e imutabilidade da palavra de Deus, mas testemunha especialmente Seu carinho, cuidado e insistência para que o homem seja liberto do cativeiro do pecado, e O reconheça como seu Senhor.

Contudo, não apenas nas manifestações extraordinárias gloriosas da natureza vemos Sua fidelidade e longanimidade. Eclipses ocorrem de tempos em tempos, eclipse com super lua, em períodos ainda mais longos, mas se pararmos e considerarmos as maravilhas do Senhor (Jó 37:14a), se prestarmos bem atenção às mais pequenas e comuns situações do dia a dia, veremos Sua mão poderosa nos conduzindo e chamando para o arrependimento e confissão de pecados. Infelizmente, algumas pessoas só param para ver como Deus é maravilhoso em Suas obras quando veem algo incomum, mas esquecem-se de observar os milagres que acontecem todos os dias na natureza e apontam para a fidelidade do Senhor. Todos os dias há o alvorecer e o ocaso; flores e frutos aparecem a seu tempo; temos verão e inverno todos os anos. Lembremo-nos também dos pequenos detalhes ordinários da natureza, os quais nos acompanham cotidianamente.

“Porque eis que passou o inverno, cessou a chuva e se foi; aparecem as flores na terra, chegou o tempo de cantarem as aves, e a voz da rola ouve-se em nossa terra. A figueira começou a dar seus figos, e as vides em flor exalam o seu aroma” (Ct 2: 11-13a).

Todo o universo tem conspirado para que o homem reconheça seu Criador, percebendo-O por meio das coisas que foram criadas (Rm 1:20).

Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite (Sl 19:2). Ainda há tempo! Ainda podemos nos voltar ao Senhor Jesus e desfrutar de um novo começo, vivendo piedosamente por meio da Sua luz, sem que as trevas deste mundo apaguem a expressão de Cristo em nós. Até que Aquele que vem virá, volte e galardoe a cada um conforme suas obras. A decisão cabe a nós hoje: nos deixarmos eclipsar pela sombra do pecado ou atendermos à luz radiante do Senhor expressa pela Igreja.

Esse artigo foi escrito tomando por fonte o livro “As Eras mais Primitivas da Terra” – tomo I, de G. H. Pember.