“(…) mantendo fé e boa consciência, porquanto alguns, tendo rejeitado a boa consciência, vieram a naufragar na fé.”  (1 Tm 1:19)

Certamente, fé e boa consciência estão entre os bens mais preciosos que podemos ter. Por isso, Paulo exorta solenemente a Timóteo que as guardasse. 

Tal fé vem por ouvir a Palavra de Deus (Rm 10:17) e nela se baseia. Isso também explica o reconhecimento do Senhor à igreja em Filadélfia: “guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome” (Ap 3:8). Aqui estão outros bens valiosíssimos que devemos guardar: a Palavra e o Nome.

Essas reflexões são muito propícias neste 31 de outubro, dia em que se comemoram 505 anos desde que Lutero afixou suas 95 teses na porta da capela de Wittenberg, evento que desencadeou a Reforma Protestante. Por essa razão, celebra-se, nesta data, o Dia da Reforma. 

“Em suas 95 teses, Lutero afirma o evangelho da graça, a fé em Cristo, e questiona as indulgências, a venda de itens com a concessão da salvação das almas no purgatório, por parte da igreja da época”. [1]

Em 1521, ele diria algumas de suas mais famosas palavras, na Dieta de Worms. Esse encontro foi “uma assembleia imperial convocada pelo Imperador Carlos V para que Lutero ou negasse ou reafirmasse o que havia escrito, pois suas 95 teses geraram problemas frente ao Papa de Roma”. [1]

Diante dos que o julgavam, Lutero declarou:

“A não ser que eu esteja convencido pelo testemunho das Escrituras ou por uma clara razão (pois não confio no papa, nem apenas em concílios, visto que é bem sabido que eles têm errado frequentemente e se contradizem), estou preso às Escrituras que tenho citado e minha consciência é cativa à Palavra de Deus. Não posso negar, e não negarei nada, pois não é seguro nem direito ir contra a consciência. Não posso fazer de outro modo. Que Deus me ajude! Amém.”

Lutero foi condenado como herege e sobre ele foi pronunciada a pena de morte. Ele havia lançado o princípio que regeria a reforma protestante na Alemanha, na Suíça e em outras regiões da Europa: o Sola Scriptura – isto é, “somente a Escritura é autoridade final sobre regra de fé e prática, crença e conduta, doutrina e ética, não sendo equiparada a nenhum bispo, concílio ou tradição, mas todos devem estar debaixo dela”. [1]

Um posicionamento arriscado, mas firme. Lutero temeu mais desobedecer a Deus do que desobedecer a homens (cf. At 5:29). Ele batalhou pela fé que nos foi entregue (cf. Jd 1:3), sendo usado por Deus para libertar muitos da opressão das trevas.

Sobre a igreja em Filadélfia, Deus afirmou que tinha pouca força, mas perseverava. A carta a essa igreja é consoladora, começando com um encorajador “conheço as tuas obras”. 

Independente de poder ou tamanho, o povo fiel persevera, guardando a Palavra e o nome. Assim foi na Reforma, quando alguns se levantaram contra o enorme poder da Igreja Católica Romana. Assim deve ser hoje: não devemos nos apegar a números, ao status da igreja ou a ideias de homens como se tais aspectos tivessem o mesmo peso que a Escritura. Antes, devemos conservar a fé, a boa consciência cativa à Palavra de Deus e guardar Seu Nome não exaltando outros. Esses são nossos bens preciosos.

Cada igreja de Apocalipse 2 e 3 tinha um desafio diferente a vencer em seu respectivo contexto. Falamos de alguns desafios da época da Reforma, mas quais são os desafios que a igreja cristã em geral tem a vencer hoje? Quais são os problemas que vemos por aí? Seria a politização da igreja um deles? Seria um evangelho centrado no homem e em seu bem-estar? Ou quem sabe outros falsos ensinamentos? O que precisa ser vencido no contexto em que você se encontra?

Independente dos desafios, a solução é a mesma: a Palavra de Deus. Em meio às muitas vozes ao nosso redor, “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Ap 3:22). O Espírito já nos disse muito por meio da Escritura. Ele moveu homens para escrevê-la (2 Pe 1:21). Assim, ela é “inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Tm 3:16,17).

Temos muitas lições a aprender com a Reforma. Seja o cenário favorável ou não, é nossa tarefa perseverar firmados nas Escrituras. Antes, elas estavam disponíveis a alguns poucos, mas, por meio desse movimento, tornaram-se acessíveis a pessoas comuns. Assim, todos podemos ter acesso direto à Palavra de Deus.

Nossos pensamentos devem estar cativos a essa Palavra (2 Co 10:5). Se  a consciência de alguém é afetada por visões contrárias aos ensinamentos bíblicos, ela deve ser reformada, isto é, voltar à forma como deveria ser, iluminada por Deus e obediente a Ele. A boa consciência é um bem preciosíssimo que precisa ser guardado.

Mesmo que o caminho seja desafiador, que nossos passos não sejam reconhecidos por outros ou que sejamos questionados pelo mundo, temos enorme consolação nas palavras do Senhor. Ele conhece nossas obras. Ele vê o coração e recompensa os que permanecem fiéis. Por meio Dele e para Ele é que prosseguimos. 

Os benefícios de segui-lo são maiores que qualquer coisa que se oponha. Ele é nossa recompensa, e descansamos na certeza de que nada pode nos separar de seu amor (Rm 8:38-39).


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[1] Fonte: O que podemos aprender com Lutero na Dieta de Worms?