O Senhor Jesus gerou a igreja (Mt 16:18) e ela é o Seu Corpo. Como igreja, nós, os crentes, somos parte do Corpo de Cristo e membros uns dos outros. Como um só corpo, não podemos desprezar os demais membros, antes precisamos praticar o amor mútuo.

O Senhor Jesus, no evangelho de João, deixou-nos registrada uma passagem curiosa: “Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. (…) Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes” (Jo 13:14-15, 17). Que é esse mútuo lavar de pés? Que significa o fato de que devo lavar os pés de meu irmão ou irmã e que meus pés devem ser lavados por eles? Isso é o que veremos neste capítulo.

O aspecto enfatizado aqui é o refrigério, ou seja, significa que nós, filhos de Deus, devemos aprender a ministrar refrigério a nossos irmãos e irmãs e que eles, por sua vez, devem ser um meio de refrigério para o nosso espírito. Precisamos ser bênçãos na vida dos irmãos. Precisamos ser úteis no crescimento espiritual do corpo de Cristo.

O refrigério mútuo de João 13 não está relacionado a pecados cometidos, para os quais há sempre perdão por meio do sangue, mas dos quais Deus, de qualquer forma, deseja que sejamos libertos. Antes está relacionado ao nosso caminhar diário pelo mundo, durante o qual é inevitável que algo se apegue a nós. “Vós estais limpos”, diz Jesus. O precioso sangue providencia isso. Entretanto vivemos no mundo — não somos dele, apenas vivemos nele — e nos movimentamos no reino de Satanás e, assim, é muito provável que algo se apegue a nós e, como uma película, fique entre nós e o nosso Senhor. Como a poeira, não poderá ser evitada, simplesmente porque estamos tocando as coisas do mundo todo o tempo. Essa é a razão de Jesus ter falado em João 13:10 que quem já se banhara não necessitava ter lavados senão os pés. O que essa passagem significa em termos práticos? Passemos a explicá-la.

Às vezes, você pode chegar a uma reunião de oração com o espírito pesado, por causa do efeito de seu trabalho durante o dia. Então, um outro irmão ou irmã ora e, de algum modo, você imediatamente sente um poder que o eleva. Você está refrigerado, seus pés foram lavados. O que, então, significa a lavagem? Significa restaurar o frescor original, significa trazer as coisas de volta a um ponto de tal clareza que é como se, uma vez mais, viessem da imediata presença de Deus, como se tivessem saído recentemente de Suas mãos. Louvado seja Deus! Quando isso acontece é porque você foi revigorado e está de volta à condição na qual pode diretamente gozar comunhão com Ele novamente. Isso é o lavar dos pés – dar refrigério aos irmãos em Cristo, trazê-los novamente ao lugar de onde ele tenha saído, trazê-los à presença de Deus. É este ministério de um para com o outro que o Senhor deseja ver entre Seus filhos, prezando sempre pelo fortalecimento espiritual do Corpo.

Se estivermos realmente andando com Deus, naturalmente não há dúvida de que seremos usados, pois com Ele não há limitações. Se estivermos limpos, com os corações transbordantes de Sua alegria e paz, haverá, com certeza, um transbordamento. Mas uma coisa é certa: se você tiver uma controvérsia com Deus, poderá só contaminar os outros, jamais poderá lavar os seus pés. Quando estiverem abatidos, você os abaterá ainda mais. Quando se sentirem oprimidos, você fará com que se sintam ainda mais oprimidos. Ao invés de refrigerá-los e restaurá-los às coisas novas que vêm de Deus, você só poderá lançá-los em trevas mais profundas.

O próprio Senhor Jesus Se colocou no lugar de servo. Não é trabalho de palco. É servir uns aos outros com uma bacia e uma toalha. É nos humilharmos. Sempre haverá necessidade de restaurar pessoas que caíram, ou trazer de volta ao arrependimento os fracos que pecaram. Mas a maior necessidade dos santos, hoje em dia, é de refrigério – precisamos chamá-los de novo ao que é original e de Deus. Isso é poder. O próprio Jesus veio de Deus para fazer isso (Jo 13:3b).

Assim, o princípio do Corpo é, simplesmente, refrigerar e ser refrigerado. Quanto mais caminhamos com o Senhor, mais necessitamos dos irmãos. Neste ministério, nenhum de nós é insignificante e nenhum de nós alcança o estágio em que não tem necessidade de ser ministrado por outro; pelo contrário, precisamos uns dos outros para a edificação da igreja!

Artigo inspirado no livro Não Ameis o Mundo, de Watchman Nee, Editora dos Clássicos (2008).
Artigos da série:

A Mente Por Trás do Sistema – Série “Não Ameis o Mundo” (1)

Tendência Oposta a Deus – Série “Não Ameis o Mundo” (2)

Um Mundo Sob a Água – Série “Não Ameis o Mundo” (3)

Crucificado para Mim – Série “Não Ameis o Mundo” (4)

Diferenciação do Mundo – Série “Não Ameis o Mundo” (5)

Luzes no Mundo – Série “Não Ameis o Mundo” (6)‏

Desapego – Série “Não Ameis o Mundo” (7)

O Refrigério Mútuo – Série “Não Ameis o Mundo” (8)

Minhas Leis em Seus Corações – Série “Não Ameis o Mundo” (9)

Os Poderes do Mundo Vindouro – Série “Não Ameis o Mundo” (10)

Roubando o Usurpador – Série “Não Ameis o Mundo” (11)